domingo, 15 de agosto de 2010

Festa Literária de Paraty

Terminei de chegar de viagem. Por muito tempo protelei minha ida à Flip, mas este ano consegui estar lá. Ainda bem...
Caríssimos (sei lá quem(s)!), os amantes da literatura, ou melhor, o amantes psicóticos da literatura não podem deixar de ir à Flip. Explico porque...
A Flip é uma Meca dos apaixonados pela literatura. A cidade é linda e tal... mas isto não é o mais importante... (apesar da cidade ser linda mesmo!). O barato de viver a Flip é saber que todos os que estão naquele lugar nutrem uma paixão por uma coisa que também é uma paixão sua!
Eu andava pela cidade, muito bem acompanhado, primeiro por minha adorável mulher (e também apaixonada por literatura) e depois por todos com quem cruzava e olhava nos olhos, encontrando o tempo todo com um companheiro, com gosto, opção ou até mesmo um desvairio pelas letras. É como se encontrar em outras pessoas completamente desconhecidas. Um sentimento diferente, pois ao mesmo tempo em que se está chegando num lugar novo e diferente, as pessoas te tratam como se já te conhecessem ou como se tivessem com você um segredo em comum.
A prova disto está em qualquer um que você queira abordar perambulando pela cidade e perguntar-lhe, sem cerimônias, sobre algum assunto literário. Garanto-lhes: alguma conversa ou até mesmo uma boa amizade poderá sair daí...
É claro que até mesmo o mundo da literatura encontra segmentos e subgrupos, você vai encontrar de fãs da literatura de Umberto Eco à fãs da nova literatura "vampiresca", mas o principal não é isto, o segredo em comum não é este... O segredo coletivo de todos os que vão à Flip, quase como um segredo maçônico, é saber que os outros que estão ali, e que se debandaram de suas cidades sei lá de onde, encontrando tempo e dinheiro, num mundo onde ninguém mais tem tempo e dinheiro sobrando, foram para Paraty para encontrarem outros seres que também fariam o mesmo esforço que você fez, por amor às letras.
Essa é a questão... A cumplicidade sutil de olhares, a gentileza além da normalidade, os sorrisos e a simplicidade com que todos se tratam é que faz a diferença na Flip. Como tratar mal uma alma irmã? Foi assim que me senti lá.
É óbvio que isto não é uma regra geral.. também encontrei seres brutalizados, eremitas mal humorados, antisociais, aproveitadores e criaturas que simplesmente não conseguiram tirar seu manto social tosco e se abrir para o momento que estavam vivendo. Só conseguia dar risada dessas criaturas que ficavam, por exemplo, catando os banquinhos de papelão (de montar) dados pelo Itaú, para levarem para casa (não me perguntem porque!). Me lembro sempre nestes momentos da cena da morte da viúva de Zorba, o grego, onde todos aqueles vizinhos correm, se matando, para ficar com os pertences da velha que acabara de morrer. Ô tristeza de almas pequenas...
Algumas pessoas vão à Flip para encontrarem os autores e tal... todas elas também voltam satisfeitas, pois a cidade é muito pequena e depois das palestras e dos autógrafos os autores sempre estão caminhando para conhecer o lugar e você sempre os encontra quando menos está esperando. A maioria deles é bem receptiva, pelo menos os deste ano foram... Não fui à Flip com este propósito, pois com exceção de Ferreira Gullar, não era anteriormente fã de nenhum dos que estavam lá, no entanto tive boas surpresas com as palestras de Isabel Allende, Benjamin Moser, Luiz Felipe de Alencastro/FHC, Patrícia Melo, Lionel Shriver e Salman Rushdie, na verdade, a maioria delas nem parecia palestra era mais como uma conversa mesmo, bem informal e espontâneo.
Enfim, aconselho muito a experiência aos que nunca foram, pois apesar de não ser uma viagem muito barata (pois os preços em Paraty dobram durante a festa!), é muito revigorante para o espírito dos que extraem prazer dos livros...
Abraço a todos!

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